domingo, 30 de maio de 2010

Rivalidades entre deficientes

Gente, não quero disseminar aqui a discórdia ou o preconceito entre os deficientes, mas gostaria de falar de um assunto um tanto quanto delicado... Já percebeu que as pessoas que adquirem deficiência, ou seja, aqueles que por algum motivo perderam parte dos movimentos, membros ou sensibilidade, se sentem mais bem resolvidos do que os deficientes congênitos? Porque será?

Amputados, paraplégicos se sentem mais autônomos em sua independência do que nós, que temos deficiência desde o nascimento. Por experiência própria, até pouco tempo, achava que era inferior aos cadeirantes que possuem movimentos normais nos braços e conseguem rodar melhor suas cadeiras. É difícil você ver uma pessoa com paralisia cerebral namorando, saindo de balada, trabalhando, casando-se e tendo uma vida comum. Mas paraplégicos estão sempre em alta: saem na night, curtem a vida, praticam esportes, namoram, casam-se, dão entrevistas e falam de superação, vida sexual... Ouso dizer que alguns fazem questão de demonstrar entre os deficientes que são superiores e mais independentes.

Os paraplégicos sempre estão em destaque em ONGs, manifestações a favor de deficientes, participam de movimentos políticos e lançam livros de como é ser um cadeirante... para eles, as empresas fabricantes de cadeira de rodas sempre projetam novos produtos sofisticados, com rodas cheias de novas tecnologias e esteticamente perfeitas... Alguém já viu a Ortobrás fabricar uma cadeira cujo o foco de usuário seria um tetraparético?

Caramba, não quero desmerecer a superação de uma pessoa que sofre uma fatalidade na vida e vira um cadeirante. Imagino como deve ser difícil se ver limitado e sem conseguir fazer atividades que antes eram tão banais como tomar um banho. Admiro a força de vontade e o poder de auto-afirmação que a maioria dessas pessoas tem depois de se tornarem deficientes. Mas espera um pouco, eu também tenho muito a dizer sobre minhas experiências em ser deficiente. Meu tempo de deficiência corresponde aos meus anos de vida, isso significa que desde que nasci, tive que aprender a lidar com as limitações e superar todas elas. São 24 anos fazendo reabilitação, é contínuo, é constante, ainda tenho o que evoluir.

Posso não movimentar uma cadeira de rodas com tanta rapidez que um paraplégico faz, mas consigo outras tantas coisas que ele não pode fazer, como por exemplo, ficar de pé e subir escadas... Acho complicado ficarmos comparando as deficiências, cada um possui graus de limitações diferentes, circunstâncias diversas... cabe cada um de nós dividirmos nossas experiências, sem nunca esquecer que todos fazemos parte de um grupo de vencedores....de pessoas que superaram e que ainda estão superando seus limites!!!

Beijos pessoassss...
Cléo Terra

Um comentário:

  1. Eis um post realmete relevante querida!
    É polêmico, e acho que faz bem ressaltar esses pontos! Concordo com quase tudo o que disse! Eu disse quase, porque existem os dois lados da moeda. Para os que adquiriram uma deficiência ou existe a vitória da superação, e até por alguma desenvoltura com membros não afetados, pode existir alguma "facilidade", no entanto, a própria fatalidade pode causar um trauma psicológico maior do que a sensação de inferioridade que pessoas com deficiência congênita pode sentir...isso é muito individual penso eu.
    Sobre o espaço em ONG's, organizações políticas, etc, acho que deficientes congênitos não têm o mesmo espaço por uma burra questão cultural, na qual muitos pais acabam se conformando com as limitações dos filhos e não os incentivam a alçar vôos mais altos, enquanto pessoas que obtiveram uma deficiência por fatalidade, têm na própria luta por uma recuperação de vida social, uma motivação para estar inserido nesses movimentos.
    Creio que espaços como esse e exemplos como o seu, ou o meu, podem incentivar a pessoas com paralisa cerebral, ou outra deficiência congênita a se motivar cada vez mais em busca de uma vida ativa e feliz!

    Grande beijo!

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